sábado, 1 de maio de 2010

União Europeia normaliza relações com Honduras e recebe críticas de movimentos sociais

Entre 21 e 26 de fevereiro, foi retomada em Bruxelas, Bélgica, a negociação do Acordo de Associação (AdA) entre a União Europeia e a América Central, suspensa havia mais de oito meses por causa do golpe de Estado em Honduras. Apesar do alerta lançado nas semanas anteriores por diversas organizações hondurenhas e internacionais, denunciando as repetidas violações dos direitos humanos sofridas por membros da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), a comissão negociadora da UE decidiu normalizar as relações com Honduras, convidando o novo governo a participar da rodada de negociações e reconhecendo o direito do país de voltar aos fóruns internacionais."Acreditamos que é preciso reconhecer a realidade das coisas e ser pragmático. Não podemos excluir um país de modo permanente", disse o embaixador da UE para a América Central, Mendel Goldstein, que conversou com o Opera Mundi durante uma entrevista coletiva na qual foram apresentados os resultados da rodada de negociações. "Chegamos à conclusão de que as eleições em Honduras transcorreram de maneira transparente e equitativa, refletindo a livre vontade da maioria dos hondurenhos", continuou Goldstein. "Com o presidente Porfirio Lobo, temos insistido sobre alguns temas: a reconciliação, por meio do cumprimento dos Acordos de Tegucigalpa/San José e da formação de um governo de unidade nacional, e o respeito aos direitos humanos, com a investigação do que ocorreu antes e depois do golpe por meio de uma Comissão da Verdade.""Acreditamos que o governo do presidente Lobo está cumprindo essas condições e não há motivos para excluir Honduras das negociações. Demos um passo e creio que toda a comunidade internacional fará o mesmo em breve", explicou o embaixador da UE.

Reações

Para as organizações que formam a FNRP, estas explicações demonstram a "hipocrisia" da União Europeia. Bertha Cáceres, diretora do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) e membro ativo da FNRP, declarou ao Opera Mundi que, "se a UE reconhece uma das eleições mais fraudulentas e militarizadas da história do país, na prática junta-se à ação golpista"."Além disso, dar sinal verde a uma Comissão da Verdade e a um suposto governo de reconciliação é lamentável", afirmou Cáceres. "No momento, não existem condições em Honduras para a instalação dessa Comissão, porque continuam os assassinatos, os sequestros e as torturas. Continua a política do terror por parte de grupos paramilitares.""Se a UE realmente se preocupa com o tema dos direitos humanos e quer impulsionar novamente a cooperação, lhe dizemos que não queremos uma cooperação que venha a fortalecer um governo herdeiro do golpe, que continua reprimindo e privando o povo hondurenho dos direitos econômicos e sociais", disse ela.A diretora do COPINH criticou duramente as declarações de Goldstein, afirmando que o AdA pretende abrir caminho às transnacionais europeias na América Central, "para continuar despojando a região de seus recursos e serviços"."Convidar Honduras a Bruxelas demonstrou mais uma vez a hipocrisia e a irresponsabilidade da UE. A situação não se normalizou no país. Esta decisão é uma ofensa à dignidade do povo hondurenho, às vítimas do golpe e às pessoas que continuam sofrendo a violação de seus direitos humanos", concluiu Cáceres.A assinatura do AdA está prevista para maio, no marco da Cúpula da União Européia com a América Latina e o Caribe, que acontecerá em Madri, Espanha.O AdA é um tratado regional proposto pela UE à América Central, baseado em três pilares: cooperação, diálogo político e comércio. Segundo a UE, trata-se de algo diferente de um clássico Tratado de Livre Comércio, graças à introdução de dois novos pilares.Na visão de diversas organizações da sociedade civil centroamericana, seria "mais do mesmo", e a cooperação e o diálogo político serviriam apenas para dar a impressão de novidade. Já foi alcançado um consenso em mais de 90% dos temas. As últimas rodadas de negociações tratarão dos temas mais delicados para a América Central, como os produtos sensíveis (arroz, leite, carne, milho, feijão, banana), a compra de serviços, a propriedade intelectual, o acesso a mercados e normas fitossanitárias, entre outros.

>>>> Disponivel em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/internacional/uniao-europeia-normaliza-relacoes-com-honduras-e-recebe-criticas-de-movimento-sociais

Nenhum comentário:

Postar um comentário