O presidente Lula é especialista em dar declarações contraditórias. Uma das últimas diz respeito ao Mercosul. Ao se referir à entrada da Venezuela no bloco, afirmou desejar que outros países façam o mesmo. Como esperar a mesma atitude dos latino-americanos se nem o próprio presidente sabe se a prioridade é o Mercosul ou a Unasul.
Em 2008, aqui mesmo no site do Mundo RI, fiz uma crítica áspera ao surgimento da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Analisava que a criação de mais um bloco econômico não fortaleceria a região, pelo contrário, pulverizaria as negociações internacionais. Com qual bloco negociar? Qual deles é o mais forte: Mercosul ou Unasul? Eram problemas que coloquei naquele momento.
Esse tipo de regionalização é vista com ceticismo pelo cenário internacional, já que os blocos latinos pouco agregam na estratégia mundial. As preferências são por acordos bilaterais.
O presidente Lula lembra agora da necessidade de fortalecer o Mercosul, tornando-o maior e politicamente mais importante. Todos aqueles países aderentes à Unasul também se fixarão no Mercosul? Será que a Guiana, o Suriname, a Bolívia, o Equador, a Colômbia, o Peru e o Chile estarão dispostos a integrar o bloco mercosulino?
O editorial do jornal Valor Econômico (30.10.09) teceu severas críticas ao Mercosul e, sobretudo à entrada da Venezuela no bloco. O editorial apenas exagerou ao afirmar que a aliança no Mercosul, particularmente entre Brasil e Venezuela, será o de se contrapor a hegemonia dos Estados Unidos. Devagar com o andor. Exageros a parte, o Brasil não está interessado em se contrapor a ninguém, muito menos aos EUA. A política brasileira pode ser sim a de tentar consolidar uma liderança na região, mas não de enfrentamento.
Não vejo o bloco fortalecido. A entrada da Venezuela intensificará, talvez, as relações comerciais entre ela e o Brasil e a Argentina. Como sempre, desde a criação do Mercosul, Paraguai e Uruguai estarão de fora. Não que os governos brasileiro e argentino assim queiram, muito menos o venezuelano, mas que os uruguaios e paraguaios têm pouco potencial comercial. Este é um outro grave problema do Mercosul. O foco das relações comerciais está em Brasil e Argentina.
Sob esse ponto de vista comercial, vale lembrar que a Venezuela importa 70% daquilo que consome. Está em sexto lugar no destino das exportações brasileiras. Só no governo Lula, as exportações para a Venezuela saltaram de US$ 608 milhões para US$ 5,15 bilhões – sendo cerca de 72% de produtos industrializados.
Há uma estimativa do comércio aumentar com a adesão dos venezuelanos às regras comerciais do Mercosul. Só que o assunto não foi tratado como uma integração comercial, mas, até agora, como um caso político. As tratativas políticas precederam as comerciais. Pouco se discutiu o processo de eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias.
Além disso, e o ponto de vista democrático? O protocolo de Ushuaia, em seu artigo 1, é claro ao afirmar: “A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados Parte do presente Protocolo”. Pairam dúvidas sobre a efetiva democracia existente na Venezuela. O fechamento dos meios de comunicação, estatização de empresas privadas, prisão de lideranças de oposição, são atitudes contrárias à democracia.
Continuo afirmando que os presidentes mercosulinos aproveitam o bloco apenas para marcar posições políticas e pensam menos na tentativa de uma integração regional forte, impondo as condições comerciais e econômicas no cenário internacional.
>>> Disponíve em: http://www.mundori.com/web/view.asp?paNumero=1661<<<
terça-feira, 6 de abril de 2010
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